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Publicado por em ago 30, 2022 em Artigos, Críticas, Festival de Gramado |

O poder da reconstrução da memória no Gauchão do Festival 50º Festival de Cinema de Gramado, por Maria Caú

O poder da reconstrução da memória no Gauchão do Festival 50º Festival de Cinema de Gramado, por Maria Caú

A seleção da competitiva de curtas-metragens gaúchos do Festival de Gramado, apelidada carinhosamente de “o Gauchão”, teve como destaque nesta 50ª edição os filmes de não ficção. Muito embora a seleção equilibrasse documentários e ficção (dos dezessete filmes selecionados, nove eram obras de não ficção, contra oito ficções), os documentários se revelaram mais potentes, apresentando propostas estéticas e narrativas mais ousadas. Quem acompanha os festivais nacionais tem notado há algum tempo que o documentário nacional, ao lado dos filmes de gênero híbrido, que caminham na linha tênue entre o documentário e a ficção, vem afirmando sua capacidade de reinvenção constante. Talvez porque hoje em dia, num Brasil de extremos, a necessidade de investigar o real se faz premente, assim como o desejo de resgatar a memória e revisitar o passado para compreender um presente opressor e imaginar futuros possíveis. Desse modo, o documentário surge como o caminho fértil que jovens cineastas escolhem trilhar para ajudar a reconstruir o cenário em ruínas da arte independe brasileira. E o que é...

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Publicado por em ago 30, 2022 em Artigos, Críticas, Festival de Gramado |

Filmes que conquistaram o 50º Festival de Cinema de Gramado conferem face humana a tristes realidades brasileiras, por Carlos Helí de Almeida

Filmes que conquistaram o 50º Festival de Cinema de Gramado conferem face humana a tristes realidades brasileiras, por Carlos Helí de Almeida

“Tem coisas no Brasil que a gente não sabe se é para rir ou chorar”, reagiu Gabriel Martins, diretor de Marte Um, vencedor do prêmio especial do júri e do voto popular da 50ª edição do Festival de Gramado, durante a coletiva de imprensa de seu filme. Delicado e comovente drama familiar que expõe em suas entrelinhas as fraturas da sociedade brasileira contemporânea, o filme do realizador mineiro é um dos exemplos mais bem acabados do tipo de cinema que conquistou corações, mentes e (muitos) prêmios na histórica edição de aniversário da mostra gaúcha, realizada em agosto: aquele que expõe, por meio da ficção, fragmentos de realidades absurdas, muitas vezes trágicas, mas que, por serem quase normalizadas no dia a dia, até inspiraram o riso nervoso, como bem lembrou Martins. O recorte dos longas-metragens da competição foi particularmente rico na forma de abordagem de temas urgentes. É o caso de “A mãe”, estreia do documentarista Cristiano Burlan na ficção, uma crônica do estado mental de uma mãe em busca...

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Publicado por em ago 30, 2022 em Artigos, Críticas, Festival de Gramado |

Balanço do 50º Festival de Cinema de Gramado, por Barbara Demerov

Balanço do 50º Festival de Cinema de Gramado, por Barbara Demerov

Na noite de premiação, realizada no último sábado (20), a comoção com os filmes Noites Alienígenas e Marte Um era palpável. São grandes histórias sobre um Brasil que, até os últimos anos, não ganhavam tanta atenção das câmeras e, quando isso acontecia, não conquistavam espaço nas salas de cinema. Felizmente, o cenário no cinema brasileiro contemporâneo agora está se transformando constantemente. Em Gramado, quem diria que um filme acreano sobre a chegada das facções criminais de São Paulo na Amazônia receberia cinco Kikitos, incluindo de melhor filme e melhor filme pelo Júri da Crítica? Pois isso aconteceu. E foi o mesmo com Marte Um, que conquistou a todos logo em sua primeira noite de exibição, colecionando lágrimas e aplausos infindáveis. A família fictícia Martins, apresentada na periferia de Contagem, Minas Gerais, foi a responsável pela comoção. Três Kikitos (melhor roteiro, melhor filme pelo Júri Popular e Prêmio Especial do Júri) foram entregues como resultado. Os vencedores de Gramado em 2022 – o que inclui, ainda, o curta-metragem Fantasma Neon,...

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Publicado por em ago 30, 2022 em Artigos, Críticas, Festival de Gramado |

Fantasma Neon: um filme sobre pessoas invisíveis, mas essenciais, por Barbara Demerov

Fantasma Neon: um filme sobre pessoas invisíveis, mas essenciais, por Barbara Demerov

“Fantasma Neon”, divulgação. O curta-metragem Fantasma Neon, de Leonardo Martinelli, venceu cinco Kikitos no 50º Festival de Gramado, incluindo de melhor curta brasileiro e o prêmio do Júri da Crítica. Com poucas palavras e muitas imagens que falam por si só, este é um filme sobre pessoas invisíveis e, ao mesmo tempo, essenciais para o andamento do cotidiano de grandes cidades. João (Dennis Pinheiro) trabalha como entregador de comida por aplicativo no centro do Rio de Janeiro. Enquanto sonha em trocar sua bicicleta por uma motocicleta, a fim de garantir mais efetividade no trabalho, ele enfrenta a precariedade do serviço e clientes mal educados. O gênero musical – algo que surpreende de início, mas é muito bem inserido pelo diretor – se colide com a severidade do dia a dia do protagonista. Além disso, é um elemento essencial para que o espectador preste atenção em cada movimento e olhar registrado pela câmera. A trilha sonora e os sons ao redor de João compõem uma rotina instável, que depende de...

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Publicado por em ago 30, 2022 em Artigos, Críticas, Festival de Gramado |

Banquete no país da fome, por Adriana Androvandi

Banquete no país da fome, por Adriana Androvandi

Cena de “Clube dos Anjos”. Crédito da imagem: Dezenove Som e Imagens, divulgação. Na noite do sábado, 13 de agosto, foi exibido no Palácio dos Festivais Clube dos Anjos, em competição na categoria de longa-metragem brasileiro. Trata-se de uma adaptação do livro do gaúcho Luiz Fernando Verissimo, lançado em 1998. O livro fez parte da Coleção Plenos Pecados, uma série composta por sete livros de sete autores diferentes, cada um sobre um pecado capital. O de Verissimo aborda a gula. A sinopse anuncia que se verá uma confraria de velhos amigos, com laços de amizade remendados num nababesco banquete proporcionado por um misterioso cozinheiro. Após o jantar, um deles amanhece morto. O filme começa com o personagem de Otávio Muller falando para uma câmera, se autogravando ao fazer uma confissão. Ele vai narrando a cronologia dos fatos e levantando suspeitas. O morto teria sido envenenado? E os demais, retornaram a um novo jantar? “Clube dos Anjos” tem uma produção e atuações primorosas, mas nem todos embarcaram na proposta do...

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Publicado por em jun 21, 2021 em Artigos, Críticas |

Um rasgo como justiça cinematográfica

Um rasgo como justiça cinematográfica

por Renato Cabral Em sua entrevista ao Roda Viva em junho de 2021, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie relatou que ao chegar ao Brasil e buscar a tão bem vendida diversidade, acabou surpreendida ao estar em um restaurante e notar algo muito diferente das suas expectativas. Adichi logo identificou que não havia nenhum negro brasileiro a frequentar o estabelecimento. Foi aí que ela percebeu que a diversidade bem vendida lá fora não era tão verdadeira assim quando chegou aqui. Ela concluiu que quando em um país com uma expressiva população negra não consegue colocar os seus cidadãos negros em posições de poder, algo de errado há. Para alguns pode ser que Chimamanda teve um desencontro, mas usar desta justificativa só serviria para suavizar mais uma metáfora importante que a escritora nos apresenta. Não precisaríamos fazer uso das reflexões de Adichie para notar os abismos e segregações que foram construídos e se perpetuam de maneira velada há centenas de anos, elas são fendas visíveis em nossa sociedade. Porém são...

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