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Publicado por em jun 21, 2021 em Artigos, Críticas |

Perpétuo (2018), Lorran Dias

Perpétuo (2018), Lorran Dias

por Juliana Costa Em algum momento do filme Perpétuo (2018), de Lorran Dias, exibido na Edição Especial da Ohun – Mostra de Cinema Negro de Pelotas, abre-se uma cortina. Após o sobrevôo do olhar identificar entidades em meio às ruínas de um casarão, um corte revela uma personagem, também entidade em cena anterior, abrir dois lençóis a emoldurar um homem e uma mulher conversando em uma cena doméstica. É nesta construção que Perpétuo nos insere ao longo de seus 24 minutos: na encenação do cotidiano. Construção também parece ser a palavra exata. O filme se passa em parte em uma casa em construção, em direção ao futuro, enquanto um outro mundo, localizado no passado provavelmente, se pronuncia em meio a ruínas. Não sabemos o quanto um interfere no outro, mas sabemos como a encenação do dia a dia interfere naqueles personagens e mais, na própria percepção do diretor. O filme vai ficando cada vez mais explícito nas suas construções de cena. Uma dupla de amigos troca carinho sob a...

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Publicado por em jun 21, 2021 em Artigos, Críticas |

Cinema doble chapa é ohùn

Cinema doble chapa é ohùn

por Ivonete Pinto Além da Fronteira (Alexandre Mattos Meireles, 2021, 21’) pode ser lido por várias chaves. Provavelmente as mais diretas se concentrem na relação de um pai e de uma filha e nas relações “sanguíneas” dos povos de fronteira. Vinculado a estes temas, o filme igualmente aborda a crise econômica do ponto de vista de um operário da construção civil, na verdade um faz-tudo porque precisa viver se adaptando. Edmilson (Hilton Oliveira) perde a esposa (as circunstâncias da morte não são explicadas no filme) e precisa cuidar sozinho da filha Clara, de 11 anos (Clara Meireles). Ele perde também o emprego e não consegue sequer pagar o aluguel. A situação fica mais difícil porque usa como válvula de escape a bebida, que só piora a relação com a filha. Ao mesmo tempo, graças às cobranças de Clara por uma mudança de atitude, decide ir embora. É logo ali, passando a fronteira de Jaguarão (RS) para Rio Branco (Uruguai), que os dois vão encontrar abrigo em uma família doble...

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Publicado por em ago 19, 2020 em Artigos, Críticas |

“Barry Fritado” e o alienígena sul-africano bonzinho

“Barry Fritado” e o alienígena sul-africano bonzinho

Ivonete Pinto Existem pelo menos duas grandes forças nos filmes fantásticos: a capacidade de transmissão de ideias através de metáforas e a liberdade  narrativa sem limites. Metáforas, por si só,  não dotam os filmes de qualidade, mas quando trazem recados importantes, funcionam de diversas formas na recepção do público, operando então funções políticas que não devemos negligenciar. George Romero e sua trilogia dos mortos  tem lugar garantido na história do cinema. Sua visão da Guerra Fria, da energia nuclear, do racismo ignóbil da sociedade norte-americana são exemplos dos temas contrabandeados no enredo de zumbis em sua obra prima A Noite dos Mortos Vivos (1968). Já o exemplo de liberdade narrativa pode estar  em Barry Fritado, exibido na 16ª edição do Fantaspoa ─ que premiou  Garry Green, o protagonista , como melhor ator ─, e igualmente exibido no festival virtual de Cannes em junho deste ano.  Barry Fritado (Fried Barry,  Ryan Kruger, 2020), é a versão estendida de um despretensioso curta com o mesmo nome, mesmo ator,  rodado dois anos...

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Publicado por em jul 17, 2020 em Críticas |

Passagem em aberto

Passagem em aberto

Maurício Vassali “Maria estava parada há mais de meia hora no ponto de ônibus. Estava cansada de esperar. Se a distância fosse menor, teria ido a pé. Era preciso mesmo ir se acostumando com a caminhada. O preço da passagem estava aumentando tanto! Além do cansaço, a sacola estava pesada.”. O que a Maria escrita por Conceição Evaristo enfrenta a partir de aí é a própria tragédia, diferente da trajetória da personagem, de mesmo nome, escrita por Juliana Balhego em Quero ir para Los Angeles. A conversa entre o curta e o conto presente na coletânea Olhos D’água, contudo, está para além da simples coincidência de Marias protagonistas e da menção de Evaristo no filme: ambas as autoras retratam vivências de mulheres negras contemporâneas. A primeira como empregada doméstica, a segunda como universitária. No curta, Maria é uma estudante de publicidade que planeja sua viagem à cidade dos sonhos. Moradora da periferia de Porto Alegre, ela divide seu tempo entre o estágio em uma agência e o novo emprego...

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Publicado por em set 10, 2018 em Críticas, Festival de Gramado |

A praia de Nara

A praia de Nara

por Juliana Costa, especialmente para o site da ACCIRS Como o mar que desmancha nossos desenhos na areia, violento e delicado, assombroso e inexorável, assim é Guaxuma (2018), novo curta-metragem de Nara Normande. Destaque em todos os festivais por onde tem passado, o grande pequeno filme da alagoana arretada também fez história no 46º Festival de Gramado, recebendo merecidamente o prêmio de melhor curta-metragem brasileiro. “Se você abrir uma pessoa, encontrará paisagens, se me abrir, encontrará praias.”, disse Agnès Varda no início de As Praias de Agnès (2008), talvez seu filme mais autobiográfico. A frase, bem como o filme de Varda, sem dúvida ecoa em Nara, que generosamente nos leva no colo, sem medo nem embaraço, por uma viagem através da paisagem da alma de sua infância. Da técnica de animação de areia, rigorosamente escolhida para dar movimento as suas memórias, ficamos com a efemeridade das imagens, assim como da vida, fantasmas de areia que somos. Conferindo um corpo robusto às reminiscências de Nara, ouvimos um relato em primeira...

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Publicado por em set 3, 2018 em Críticas, Festival de Gramado |

Sem moradia e sem esperança

Sem moradia e sem esperança

por Mônica Kanitz, presidente do Júri da Crítica da Mostra Gaúcha de Curtas-metragens do 46º Festival de Cinema de Gramado, especial para o site da ACCIRS Sem Abrigo, de Leonardo Remor, foi o título escolhido pelo júri da ACCIRS para receber o prêmio da crítica na mostra de curtas-metragens gaúchos do Festival de Cinema de Gramado de 2018. Entre os elementos que justificaram a escolha estão uma combinação caprichada de movimentos de câmera com os silêncios pertinentes da personagem protagonista, vivida com muita sensibilidade pela atriz Rejane Arruda – que ganhou, merecidamente, o prêmio de melhor atriz da mostra. O filme ainda foi vencedor dos troféus de montagem e fotografia, respaldando a escolha do júri da crítica. Leonardo Remor, que também é pesquisador nas linguagens de mídia e artista visual, propõe um olhar atento e humanizado sobre uma figura cada dia mais presente nas grandes cidades: o morador de rua. Nas primeiras cenas de Sem Abrigo, Valéria lembra uma mulher comum, circulando apressada pelas ruas do centro de Porto Alegre em...

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