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Publicado por em nov 16, 2018 em Artigos |

O Gabinete do Doutor Montanari – Yonlu no Clube de Cinema de POA

por Paulo Casa Nova

Yonlu (2017), longa-metragem ficcional de Hique Montanari sobre a vida e morte do compositor porto-alegrense Vinicius Gageiro Marques, o Yonlu, que se suicidou em 26 de julho de 2006, tem uma característica comum aos filmes realizados por este cineasta de tantos documentários: a meticulosidade obsessiva com os detalhes. Cito alguns: como roteirista, realizou nada menos que doze tratamentos do roteiro em dez anos de produção do filme; como produtor, tratou os pais de Yonlu com o respeito e o profissionalismo que o tema exigia; como diretor, o cuidado em contar uma narrativa sem barrigas, ou seja, sem rodeios.

Mas Montanari aparece com uma qualidade a mais: o confidente. É evidente seu compromisso com o filme e com o protagonista. Não há no filme espaço para sentimentalismo ou sensacionalismo e, no entanto, o filme flui em sentimentos e imagens sensacionais. Me vem à memória enquanto escrevo a subida de Yonlu pelos morros de Porto Alegre vestido como astronauta. Montanari é confidente também nos debates sobre o filme, tanto no último Festival de Gramado, participando da Mostra Gaúcha de Longa- Metragens como nos debates em sessões especiais já em plena carreira nos cinemas.

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Fui testemunha, como mediador, do debate promovido pelo Clube de Cinema de Porto Alegre. A sessão, numa chuvosa manhã de sábado, atraiu nossos associados mas muitos convidados. O debate que se seguiu à exibição do filme foi longo, intenso e brilhante. Eu perguntava o que podia, Hique, Gilka Vargas e Iara Noemi, suas escudeiras e diretoras da arte do filme respondiam de pronto como se estivéssemos numa final de Wimbledon. E abriu-se para a plateia perguntar. E perguntaram. E rendeu o debate. E o debate foi sério como tema exigia, mas leve como a relação estabelecida permitiu.

Daí a brincadeira do título deste ensaio, onde os espectadores fizeram uma psicanálise breve com o diretor, onde as impressões foram trocadas e a arte do filme foi analisada em minúcias, principalmente a respeito da construção do quarto do protagonista, traçando um leve paralelo com o expressionismo alemão, em especial O Gabinete do Doutor Caligari (1920), clássico do período.

Foi uma manhã gloriosa para o Clube de Cinema de Porto Alegre.