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Publicado por em mar 22, 2016 em Artigos |

Glauco do Brasil (2015), por Cristiano Aquino

 

Glauco do Brasil, documentário a respeito da vida e da obra de Glauco Rodrigues, pintor e gravurista gaúcho de Bagé, em seu título nos faz pensar em um artista valorizado por nosso país e pouco conhecido no mundo afora. Infelizmente, não é esse o caso.

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A verdade é que o longa dirigido com habilidade por Zeca Brito nos mostra um artista de vasta obra, porém mais conhecido internacionalmente, especialmente na França, do que por nós, que fomos vizinhos de Glauco a vida toda. Com depoimentos de colecionadores de arte, artistas retratados e aficionados por sua obra, a vida de Glauco Rodrigues vai se descortinando aos pouquinhos, apresentando ao espectador seu processo de criação, os motivos de sua obra e os lugares por onde pintou e viveu, de Bagé a Roma, passando por Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Um excelente material para um documentário pode resultar em um trabalho fraco. Para isso, basta uma montagem mal feita. Mas esse não é o caso de Glauco do Brasil. Ao se colocar à frente dos entrevistados sempre em um bate papo informal, Zeca Brito nos leva consigo para conhecer a vida e a obra do artista através da intimidade. Conta muito para isso a entrevista improvisada feita por um Zeca ainda menino com o próprio biografado, num ambiente barulhento de uma festa de família e com aquele menino extraindo grandes exemplos através de respostas. A valorização da arte, os detalhes dos quadros e explicações a respeito das fases de seu trabalho aproximam a audiência do artista, gerando um entendimento que, em sua falta, muitas vezes afasta as pessoas da apreciação destas peças, sejam elas um quadro ou um filme. E se essa visão consegue transmitir o anseio do pintor no quadro, o ciclo da criação se amplia com o eco gerado no peito e na mente do espectador.

A pesquisa musical percebida em cena, um trabalho do diretor Zeca Brito ao lado de Rita Zart, remete à brasilidade apresentada por Glauco em seus desenhos, o pitoresco encontro de personagens da história em seus quadros, quebrando o tempo e a razão, mas ao mesmo tempo deixando espaço para a reflexão. A câmera de Zeca foca o detalhe, e este nos faz querer conhecer o todo, atingindo assim o objetivo maior de um documentário: a vontade de querer saber mais a respeito do tema proposto.

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Por fim, rendo-me ao título do filme. Glauco é identificado como do Brasil lá fora, onde sua obra é valorizada como a de um mestre. Que cada vez mais Glauco seja assim também para o Brasil, pois com isso nós só teremos a ganhar.