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Publicado por em jun 21, 2018 em Artigos |

Uma Memorável Volta ao Mundo em Duas Semanas e Alguns Dias pelo XIV Fantaspoa

Por André Kleinert, editor do blog Anti-Dicas de Cinema e integrante do júri da Mostra Competitiva Internacional do Fantaspoa 2018, especial para o site da Accirs.

A seleção de filmes da competição internacional do XIV Fantaspoa refletiu tanto algumas das principais características existenciais do festival bem como evidenciou a atual situação em termos de importância e prestígio do evento perante o panorama de festivais de cinema no Brasil e no mundo. No primeiro aspecto, o conjunto de produções exibidas se mostrou em sintonia com aquilo que o Fantaspoa se propõe desde que se tornou um festival com caráter de mostra competitiva – o de procurar oferecer um recorte expressivo e variado daquilo que se realiza em termos de cinema fantástico pelo mundo inteiro. Na edição de 2018, a boa média em termos de qualidade artística da seleção de longas-metragens – na opinião deste que vos escreve, foi a melhor amostragem de títulos dentro da competição internacional que já vi no Fantaspoa – revela a crescente relevância que o festival porto-alegrense vem conquistando planeta à fora, a um ponto que um crescente número de realizadores e produtores de diversos países demonstra forte interesse em ter seus respectivos trabalhos ganhando a chancela de selecionados e premiados.

No panorama das produções exibidas na competição internacional, foi interessante constatar que os países que mais tiveram produções selecionadas foram Japão, Alemanha e Estados Unidos. No lado nipônico, prevaleceram divertidas adaptações para a tela grande de mangás consagrados, com a exceção do extraordinário Plano-sequência dos Mortos,

O premiado Plano-sequência dos Mortos

O premiado Plano-sequência dos Mortos

criativa declaração de amor ao ato de fazer cinema (não à toa, ganhou a categoria de melhor filme da competição). Entre os representantes germânicos, destaques para Hagazussa (telúrico horror envolvendo bruxas e perseguição religiosa) e Luz (desconcertante recriação de dramas de possessão demoníaca). Já os americanos investiram em um certo tradicionalismo narrativo, como o slasher conservador The Ranger e os sanguinolentos e cômicos Puppet Master: The Littlest Reich e Blood Fest, com direito a algumas excentricidades como o misto de ficção-científica e drama familiar intimista de The Endless e a insana animação tosca de trama sub-tarantinesca A próxima Morte. De se mencionar ainda o demente conto vampiresco blasfemo do norueguês Vidal, oVvampiro, a síntese entre conto de fadas e terror demoníaco do basco Errementari, as sensacionais atmosferas oníricas e simbolistas do francês Os Garotos Selvagens, o horror canibal de sutil subtexto a comentar a alienação parental e o abuso infantil do austríaco The Dark, o insólito e melancólico drama místico do canadense Ally ou can eat Buddha.

Enfim, o XIV Fantaspoa proporcionou ao seu público uma verdadeira viagem a explorar diferentes vertentes do cinema fantástico pelo mundo. E pela trajetória que a competição internacional do festival vem apresentando nos últimos anos, é provável que a edição XV de 2019 seja ainda melhor.