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Publicado por em nov 25, 2018 em Artigos |

Homenagem aos decanos da crítica no Rio Grande do Sul

Por Fatimarlei Lunardelli, especial para o site da Accirs

Na passagem de seus 10 anos, a Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul presta homenagem aos mestres da crítica Enéas de Souza, Hiron Goidanich e Hélio Nascimento. Egressos da década de 60, atuantes no cenário da crítica e da cultura cinematográfica através das páginas dos jornais, nas sessões de filmes, no convívio amigável da cinefilia porto-alegrense, os três críticos passam a ser sócios honorários da entidade.

Cine Bancários Enéas

Enéas de Souza homenageado na Sessão Accirs, com André Kleinert e Fatimarlei Lunardelli

Enéas de Souza, 81, começou na Revista do Globo em 1959, atuou como crítico nos anos 60 dirigindo-se, depois, para a economia e a psicanálise. É autor de Trajetórias do Cinema Moderno, obra de pensamento sobre o cinema publicada em 1965 e reeditada em 2017, na coleção Escritos de Cinema, vol. 10, da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Prefeitura de Porto Alegre. Em 2005 iniciou O Divã e a Tela, ciclo de sessões mensais de filmes com debate na Associação Psicanalítica de Porto Alegre, junto com Robson de Freitas, que resultou no livro Cinema: o Divã e a Tela, em 2011. Também integra a equipe editorial da revista Teorema, publicação impressa de ensaios críticos há 16 anos em circulação. Enéas recebeu a homenagem na Sessão Accirs do filme Os Dias com Ele, no Cine Bancários, na qual sua abordagem da obra de Maria Clara Escobar se converteu em verdadeira aula de cinema.

Goida e Daniel Feix em sessão do Clube de Cinema

Daniel Feix e Goida em sessão do Clube de Cinema

Hiron Goidanich, 84, que começou no jornalismo em 1960, foi homenageado no lugar em que, depois de sua casa, é aquele que lhe é mais familiar – o Clube de Cinema de Porto Alegre, desde 1948 em funcionamento ininterrupto. Formado na cinefilia porto-alegrense capitaneada por P.F. Gastal, Goida escreveu em Zero Hora por 35 anos. A antologia Nas Primeiras Fileiras, vol. 3 da coleção Escritos, reúne alguns dos milhares de textos onde se manifestou sempre com alegria e entusiasmo pela arte, a literatura, o cinema e os quadrinhos. Foi publicitário da MPM Propaganda e consultor da L&PM Editora, pela qual publicou em 1990 a Enciclopédia dos Quadrinhos, em 2011 atualizada em colaboração com André Kleinert. A sessão de homenagem a Goida ocorreu sábado, 24 de novembro, em que o Clube exibiu aos associados Head (1968), de Bob Rafelson. Em seguida, críticos, cinéfilos e cineclubistas seguiram para almoço de confraternização no tradicional Copacabana. Restaurante inaugurado em 1939 por imigrantes italianos, o Copa é reduto de jornalistas, intelectuais e famílias porto-alegrenses.

Almoço da Crítica 9.1

Daniel Feix com os homenageados Goida, Enéas de Souza e Hélio Nascimento no Almoço dos Críticos

Foi no almoço que se prestou a homenagem a Hélio Nascimento que, aos 82 anos, segue escrevendo no mesmo Jornal do Comércio onde iniciou como crítico em 1961. Raridade das raridades, há mais de 50 anos Hélio publica todas as semanas uma crítica sobre alguma estreia do circuito exibidor. A facilidade da internet faz a versão digital do jornal ir além do setor econômico ao qual é dirigido, assim o texto culto e consistente de Hélio alcança, hoje, leitores em todas as direções do planeta. Também ele tem reunião de melhores textos pela coleção da CCVF, O Reino da Imagem, vol. 7, de 2002. Autor do livro Cinema Brasileiro (1981) Hélio também trabalhou na Rádio da UFRGS, onde tinha programa semanal de cinema e música. Ao se aposentar em 2001, tive a honra de substituí-lo, dando continuidade à divulgação de trilhas de filmes.

Leonardo Bomfim em primeiro plano no Almoço dos Críticos

Almoço dos Críticos no Copacabana

O Almoço dos Críticos, como ficou caracterizado o encontro, foi de confraternização amigável de pessoas que gostam e trabalham pelo cinema, seja escrevendo, programando, fazendo, ensinando ou divulgando. Trabalhar pelo cinema era o “mandato” de P. F. Gastal que Goida gosta de lembrar e que nós, da Accirs, queremos, sempre, continuar “obedecendo”. Da condição de espectador apaixonado se faz o crítico de cinema, um amor que se desdobra em cinefilia entusiasmada que a todos irmana.