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Publicado por em out 5, 2020 em Artigos |

Sobre Deserto estrangeiro, de Davi Pretto

Por Paulo Casa Nova, integrante do Júri da Crítica Accirs na Mostra Gaúcha de Curtas – Prêmio Assembleia Legislativa, no 48º Festival de Gramado.

Deserto estrangeiro, dirigido por Davi Pretto durante sua residência em Berlim durante 2018, foi a resultante de suas descobertas por esta cidade vibrante culturalmente e que, se houver persistência, apresentará camadas de verdades ainda mais curiosas.

E assim Davi Pretto encontrou Isabel Zuaa e Mauro Soares, atriz e ator portugueses, e a Namíbia, antiga colônia alemã, pré-primeira Guerra Mundial. E encontrou este passado alemão pré-primeira Guerra e o massacre da tribo Hereros e o primeiro Goering, pai do famoso Hermann e administrador da colônia em 1907, e o Goering filho olhando tudo e pensando: “ vou superar o papai um dia…”

Deserto estrangeiro, de Davi Pretto

E o Davi me faz um filmão de 23 minutos sobre tudo isso. Quando a escuridão vem no parque em Berlim no qual o Mauro é porteiro (primeiro dia de trabalho!), aparece a Isabel do nada, aparecem outros na ilha no lago no meio do parque, aparece a velha culpa da Alemanha, aparece uma fotografia deslumbrante e ameaçadora. Aparecem os mortos Hereros, aparece o deserto da Namíbia, aparece o dia escaldante, aparecem os pecados ancestrais, nunca exumados, nunca devidamente reconhecidos, até há pouco tempo.

E o filme aponta para um caminho: abraçar e reconhecer, à luz do sol abrasador, os mortos que se levantam e pedem reconhecimento. Davi Pretto fez um filme que fala de um pecado alemão quase esquecido que se identifica em todos nós.