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Publicado por em jan 26, 2016 em Artigos, Críticas |

Outono Celeste (2015), por Renato Cabral

 

Uma garota, Clara (Ana Paula Schneider) e seu namorado (Ian de Mello) acampam à noite em uma floresta. Essa premissa já clama para um filme de suspense, terror e, como é o caso, de ficção-científica. Trabalhar esta mescla de gêneros é um tanto quanto previsível em produções universitárias e, dependendo, o resultado pode ficar duvidoso. Mas certamente não é o que assistimos por aqui. Partindo dos clichês próprios à temática, de certa forma, o diretor Iuri Minfroy subverte as expectativas para construir o seu Outono Celeste.

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Produção realizada através da Universidade Federal de Pelotas, da qual diretor e equipe são graduandos em Cinema e Audiovisual, somos impactados na trama já de início, quando o namorado é pulverizado por um ser extraterrestre. E é a partir daí que a história, que possui apenas uma fala, se desenrola. Nossa protagonista se vê sozinha com esse invasor e, assim é construída uma relação que beira ao voyeurismo. Os espaços de ambos vão sendo invadidos aos poucos, um pelo outro. Através de uma perseguição do olhar, em um jogo de gato e rato que está longe de se aproximar do sexual ou terror, é extremamente melancólico. Toda essa dança que os protagonistas fazem durante boa parte do curta-metragem culmina na principal invasão, a do toque que reverbera de forma extrema. Seria o alienígena e essa relação de perseguição dele com ela uma metáfora de um agressor e sua vítima? A abordagem de Minfroy parece se dar de forma aberta às conclusões.

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As atuações dão a entender uma direção de atores contida. Afinal, falta uma reação mais apropriada da protagonista ao quase completo desaparecimento do namorado. Talvez seja aí a parte que o filme peque, mas em outros aspectos a produção extrapola com uma qualidade excepcional de construção. O ambiente e a sensação de distância e, como a já citada, narrativa melancólica são muito bem intensificadas por uma fotografia belíssima. Talvez resida nesse ponto a parte mais forte desta obra, além, é claro, de referenciar produções clássicas de sci-fi como O Dia em que a Terra Parou (1951), de Robert Wise.