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Publicado por em set 13, 2017 em Artigos |

Ensaio sobre a partida

Por Siliane Vieira, integrante do Júri da Crítica da Mostra Gaúcha no 45º Festival de Cinema de Gramado, especial para o site da Accirs

Cartaz de Sob águas claras e inocentes

Há momentos em que o movimento é a única atitude possível. No curta Sob águas claras e inocentes, a câmera do diretor e roteirista Emiliano Cunha assume essa posição de inquietude protagonizando bem construídos planos sequência que acompanham os momentos derradeiros retratados. A sensibilidade da narrativa constrói um mosaico de sensações unidas pela força da despedida, da fuga, da melancolia, da redenção.

Em cena, diferentes personagens desfilam diferentes partidas. O figurino é um dos elementos que reforça a ligação entre cada um desses protagonistas, sugerindo uma história única, identificável com distintos rostos (há uma bem-vinda pluralidade de raças e gêneros retratados). A câmera está quase sempre localizada na altura dos personagens e acompanha os passos de cada um como uma cúmplice a captar a belíssima unidade no trabalho do elenco. Mas há bem mais do que somente o figurino que se compartilha a cada aparição em cena, há um certo desespero que vai ficando mais iminente conforme a história avança.

A decisão de seguir em frente ou em outra direção também envolve quem fica, e o roteiro engloba ainda esses “terceiros”, oferecendo ao espectador um contexto amplo de situações, ainda que por meio de recortes breves com diálogos sucintos. Com enxutos 15 minutos de duração, o curta orquestra ainda a inserção de uma animação – trabalho competente assinado por Denny Chang -,que abraça a agonia dessa persona de muitas faces de forma poética e forte. O grito abafado que enche a tela é um grito de todos, um grito de qualquer um a conectar o filme de Emiliano Cunha com infinitos cenários.

Sob águas claras e inocentes foi escolhido Melhor Curta Gaúcho pelo Júri da Crítica formado por integrantes da Accirs no 45º Festival de Cinema de Gramado. O trabalho também conquistou melhor direção, melhor produção executiva e menção honrosa ao elenco no Prêmio Assembleia Legislativa. Recentemente, o curta levou ainda o Prêmio do Júri no 3º Festival ADF de Fotografia Cinematográfica, na Argentina; e menção honrosa no 2º Festival Internacional de Cine de Quito, no Equador.