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Publicado por em set 7, 2019 em Artigos |

Pentalogia de Cordisburgo: terceiro capítulo


Por Carla Oliveira

Distante de Cataguases, Contagem e Belo Horizonte, fica a pequena cidade mineira de Cordisburgo. É a terra de Guimarães Rosa e também de Marco Antônio Pereira, realizador de Teoria sobre um planeta estranho (2018), terceiro de uma série de cinco curtas-metragens de ficção a ser realizada na sua cidade natal, baseada em referências e pessoas comuns. Os primeiros capítulos da série – A retirada para um coração bruto (2017) e Alma bandida (2018) – estrearam nos Festivais de Tiradentes e de Berlim, respectivamente. 

Os protagonistas de Teoria sobre um planeta estranho são uma jovem com deficiência auditiva (Larissa Bocchino) e um frentista do posto de gasolina de Cordisburgo (Gerson Marques) por quem ela se apaixona. A história de amor é narrada de forma absolutamente envolvente e original. Inventividade parece ser a tônica da prática artística de Cordisburgo. Se na obra-prima de Guimarães Rosa, Riobaldo faz (ou não) um pacto com o diabo, no peculiar curta de Marco Antônio Pereira, seu protagonista tem um encontro com Deus. Deus que se apresenta de forma insolitamente material como proprietário de uma loja de bugigangas onde nada está à venda, tampouco precificado. O desolado frentista é quem cobra explicações pela infelicidade que o tolheu em um dia de chuva torrencial. É filosófico. As imagens do casal correndo na chuva antes do incidente (e tantas outras) são cheias de graça e beleza. Elas se repetem em uma montagem frenética, são memoráveis e simbólicas. Marco Antônio Pereira, músico em essência, as enriquece sonoramente, concerta uma linguagem para sua protagonista com dificuldades auditivas e alcança os tons que vão ressoar no público. Teoria sobre um planeta estranho é o vencedor dos Kikitos de melhor trilha musical e de melhor filme pelo júri popular na categoria de curtas-metragens brasileiros neste 47º Festival de Cinema de Gramado.