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Publicado por em mar 23, 2014 em Artigos |

Diversidade predomina em Paulínia

5xfavelalogopor Marcus Santuário

O Paulínia Festival de Cinema, em sua terceira edição, merece uma reflexão sobre seu significado no cenário da cinematografia nacional, que convive com mais de 200 festivais e mostras durante o ano. São eventos de cinema que podem dar uma noção da produção cinematográfica de um certo contexto temporal e geográfico no qual eles se inserem. É assim com o Oscar, com Cannes, com Berlin, San Sebástian, Veneza, Punta del Este, Mar del Plata, Rio de Janeiro, Gramado, Brasília, São Paulo e também Paulínia. Mas, para se ter a real percepção deste universo de produção cinematográfica, é necessário conhecer todos os filmes que foram apresentados dentro de determinada mostra competitiva.

A diversidade temática; de estilos; e de qualidade narrativa, técnica, e de roteiro, se encontra implícita no conjunto destes eventos. E foi esta também uma das marcas presentes no festival do interior paulista. Com tantos eventos espalhados pelo país, não é tão simples definir o que se vê em um único festival como o quadro estático da produção nacional. Ele é parte de um contexto, amplo e repleto de matizes. Se fôssemos construir um escore em relação aos filmes exibidos em Paulínia, sairíamos com um empate positivo. Três produções que podem ser consideradas de boas a muito boas. E a outra metade, sofrível e que traz o pecado cinematográfico do roteiro ruim, da edição problemática e do uso excessivo de clichês.

Na primeira lista estão “5 X Favela – Agora Por Nós Mesmos”, projeto reunindo sete diretores estreantes sob a batuta de Cacá Diegues, que trouxe uma visão inovadora, de dentro das comunidades pobres, para expor suas vivências. Este levou o prêmio máximo emlonga Metragem, além de outros; “Malu de Bicicleta”, com um experiente e talentoso olhar sobre dramas amorosos urbanos, de Flávio Tambellini; (que levou prêmio de Melhor Diretor, além de prêmios para os atores Marcelo Serrado e Fernanda de Freitas) e “Bróder”, de Jeferson De, com seu foco também na vida das favelas, mas com elementos instigantes e bem utilizados (Prêmio da Crítica, entre outros). Diegues (representado pela equipe de diretores e atores), Tambellini e Jeferson De presentes em Paulínia, debateram com tranquilidade e profundidade seus filmes, que foram muito bem recebidos pela crítica. na outra ponta da qualidade cinematográfica, os diretores também estiveram no Festival, mas seus trabalhos não foram bem recebidos. Nesta lista, “As Doze Estrelas”, tentativa dramático-astrológica de Luiz Alberto Pereira; “Desenrola”, proposta de um olhar sobre a sexualidade e os dramas do mundo infanto-juvenil; e “Dores & Amores”, de Ricardo Pinto e Silva, transpondo conflitos e buscas afetivas de um universo mais adulto do que o anterior.

Assim como na vida, no cinema, as coisas nem sempre dão certo num único setor. Paulínia, como outros festivais, divide a competição entre ficção e documentário e, nesta última categoria, as surpresas foram mais positivas. O “empate positivo” do parágrafo anterior ganha expressão aqui. Os diretores Cláudia Priscilla (“Leite e Ferro” – o vencedor), Evaldo Mocarzel (“São Paulo Companhia de Dança”), Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”), Estevão Ciavatta (“Programa Casé”), Cristiana Grumbach (“As Cartas Psicografadas por Chico Xavier”) e Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley (“Lixo Extraordinário”) mostraram competentes trabalhos e acompanharam os debates com pautas estéticas e narrativas sendo colocadas em questão. Mas, Paulínia também mostrou um pouco da instigante produção em curta-metragem que o Brasil está fazendo. E, novamente, erros e acertos. Os melhores: “Tempestade”, animação de Cesar Cabral; “Estação”, de Márcia Faria; “Eu Não Quero Voltar Sozinho” (considerado o melhor pelo Juri Oficial), de Daniel Câmara; e “Ensolarado”, de Eliane Coster.

A construção narrativa e estética das produções que têm feito de Paulínia o local em que mais se faz cinema no Brasil ainda pode melhorar. Alguns dos filmes produzidos com o dinheiro e o empurrão estrutural de Paulínia como “As Doze Estrelas” mostram que não basta ter dinheiro para se fazer bom cinema. Mas que ajuda, ajuda.