Páginas
Seções

Publicado por em ago 29, 2022 em Artigos, Festival de Gramado |

Diário de Gramado, por Paulo Casa Nova

Conversa de Casa
Diário de Gramado – Dia 12/08/2022 – Primeiro Dia
Cena Exterior – Noite – Rua Coberta – Gramado/RS

A edição de número cinquenta do Festival de Cinema de Gramado irá começar às 18 horas em ponto! Era o prometido…

Mas, num tom normal, o atraso de quarenta minutos causado pelo coquetel das autoridades causou confusão e indignação no público em geral. Explico: após a entrega de troféus entre as próprias autoridades, o esforço demasiado exigiu reposição de forças no tal coquetel que, por sua vez, como numa queda de dominós, atrasou o começo das exibições do primeiro dia. Normal.

Normal também foi a habitual truculência dos seguranças que exigiam os convites, crachás, furos nos convites e pulseiras para os jornalistas. Depois da quarta tentativa de me barrar, ao me perguntar se eu tinha pulseira ou não, respondi que tinha trazido meus exames de sangue!

Explicação necessária: quando acordei, na manhã da sexta-feira, eu tinha certo um compromisso com a van que, do aeroporto, me levaria até o centro de imprensa e credenciamento, a Sociedade Recreio Gramadense. Era para acordar às 8h. Acordei e vi no relógio: 11 horas. Alarme! Imaginem um gordo de 140 quilos correndo pelo apartamento e enfiando toda a muda de roupa na mala, batendo com o joelho na quina da mesa e ficando mais insano à medida que os minutos passavam. Saí de casa para o aeroporto meio dia para pegar a van no horário marcado de… Meio-dia!

Cheguei ao aeroporto e o relógio dizia: dez e meia! Hã?

Claro. Eu tinha acordado as 8h e vi o horário errado. Onze horas só na minha imaginação. Acabaram por me encaixar na primeira van e cheguei em Gramado com duas horas de antecedência em relação ao planejado. Mas o custo foi ter enfiado na mala muita coisa desnecessária como os tais exames de sangue, início desta história. Acontece que eu estou iniciando um tratamento clínico de emagrecimento e os exames de sangue são necessários para ajustar medicação e outras providências. Peguei tudo numa vez e só descobri, na pousada após o credenciamento, que tinha trazido os exames desnecessariamente.

E aí o segurança me pergunta da pulseirinha que é dada a fotógrafos que tinha de tirar as tais fotos de celebridades e sair do Palácio dos Festivais assim que concluíssem sua missão. Ora, só levava o meu celular e olhe lá. Por isso, sem pulseirinha. Não queriam me deixar entrar até que esclareceram tudo isso. E aí me perguntaram mais uma vez se eu tinha pulseira ou não: “Não tenho pulseira, mas trouxe os meus exames de sangue, serve?”. Mas eu falo, falo, e não falei dos filmes.

Pois falo agora. Os primeiros curtas-metragens brasileiros em competição, “O Fim da Imagem” e “Deus Não Deixa” são realizações bem abaixo do esperado e me surpreenderei se ganharem prêmios de relevância. O primeiro curta fala sobre a opressão ao diferente na escola e na casa; os dois protagonistas são um casal de adolescentes sensíveis que tentam escapar a um círculo de opressão. A premissa é ótima, mas a realização em si é deficiente; roteiro fraco, interpretações não carismáticas e direção frouxa comprometem uma técnica de som e fotografia bem apurada. Foi como trazer um canhão para matar uma mosca.

O segundo curta, “Deus Não Deixa”, fala sobre religião e opressão, sexualidade e fé, mas não chega a nenhuma conclusão satisfatória para o equilíbrio dramático do filme. Fica a impressão de que há mais para contar e que a realização ficou abaixo da premissa. Tecnicamente interessante, artisticamente medíocre, “Deus Não Deixa”, me lembra novamente de um artista que trouxe um canhão para matar uma mosca.

Os longas tiveram uma noite mais feliz. A noite começou triunfalmente, com a justa homenagem à atriz Aracy Esteves, que recebeu o Troféu Cidade de Gramado. Foi um gesto de amor correspondido entre o Festival e a Grande Dama. A exibição de longas começou com “A Mãe”, do diretor de documentários Cristiano Burlan, com o protagonismo carismático de Marcélia Cartaxo como a mãe que procura por seu filho desaparecido na periferia de São Paulo. Marcélia é sensacional, tanto no registro dramático como no cômico, e é ela quem carrega o filme nas costas. Já desponta a melhor atriz desta edição do Festival, arrisco.

O segundo longa da noite, iniciando a competição entre estrangeiros, foi o peruano “La Pampa”. Trata-se de um filme sobre reunião de família, crime, opressão feminina, redenção masculina, paternidade, drogas, documentário, melodrama, política, tudo junto e misturado na região de La Pampa, a Amazônia Peruana. A habilidade do diretor de equilibrar estes ingredientes faz de La Pampa um dos favoritos da competição.

A noite foi ótima e a conclusão foi uma pequena e rápida conversa com um de nossos melhores críticos, Waldemar Dalenogare Neto, o Dale do YouTube de sábados às nove da noite, crítico formado em história e radicado em New Jersey, onde se tornou crítico de cinema e membro da Critics Association americana e da Academia Brasileira de Cinema. Nosso personagem do dia é um crítico consistente que analisa somente filmes e estuda com gosto e nenhuma pose o cinema de todo o mundo com preferência a Hollywood e ao cinema brasileiro. Parabéns.

Até amanhã.
Com o Cinema, Paulo Casa Nova.

Conversa de Casa
Diário de Gramado – Dia 13/08/2022 – Segundo Dia
Cena – Interior – Palácio dos Festivais – Noite

Os curtas da noite seguiram o padrão de ontem: muito técnicos, mas com realizações medíocres. “Último Domingo” tenta uma revisão de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, de José Saramago. Tenta, mas não consegue. Mais uma vez a premissa supera a realização. Mais uma vez a montanha pariu um pedregulho. O mesmo para o segundo curta, “Benzedeira”, sobre um agricultor homossexual e negro, nos cafundós da Amazônia, que faz às vezes de benzedeira da região. Não sabemos de onde ele veio, porque se tornou benzedeira, o filme é confuso, é difícil entender o que diz o personagem. Um fracasso promissor.

Um detalhe importante: ambos os curtas foram dirigidos por duplas de diretores. Por quê? Por que há tantos diretores assim? Há mais diretores que filmes! Todo mundo quer ser diretor hoje em dia porque se tornou uma posição política, se tornou uma posição menos artística, penso eu.

Os longas foram melhores, embora não espetaculares como ontem: “O Clube dos Anjos”, de Ângelo Defanti, baseado no romance de Luís Fernando Veríssimo, tem num ótimo e afinado elenco seu principal trunfo, embora uma direção frouxa do estreante Defanti não mantenha o suspense nem a graça em ritmo máximo da metade do filme para o final. Começa bem, mas vai declinando até o final.

“9”, o filme uruguaio sobre um craque fictício de futebol, ainda no começo de sua carreira profissional, também começa bem e vai declinando de interesse até o final. A cena climática vista à distância torna o filme uma oportunidade perdida para estudar o processo de destruição dos jovens atletas pela maquina corporativa dos grandes clubes e patrocinadores. O filme de outra dupla, Martín Barrenechea e Nicolás Branca, não diz a que veio por que não vai até o final catártico que o filme exige.

Personagem do dia: ao conseguir jantar uma sopa na Rua Coberta, vi um cachorrinho meio caramelo, meio branquinho se acomodar num capacho e se encolher de frio. Já de coração partido, terminada a sopa, fui ter com um funcionário que estava fechando a loja ao lado do cachorro. Ele me explicou que o cachorrinho tem dono, o nome do cachorro é Queixinho, ele costuma fugir, fica atrás dos turistas para receber carinhos e petiscos. Queixinho, o cãozinho fake de Gramado!

Até amanhã.
Com o Cinema, Paulo Casa Nova.

Conversa de Casa
Diário de Gramado – Dia 14/08/2022 – Terceiro Dia

Feliz Dia dos Pais! Lembro-me do velho cinéfilo Paulo Salvador Mariani Casa Nova como alguém que me deu o gosto do Cinema como prazer e ritual. Espero que ele esteja apreciando muitos filmes e outras leituras lá no Céu. Parabéns!

Os curtas seguiram a tradição da mediocridade: muito barulho por nada, ou muito pouco. Os dois curtas tem duas duplas de diretores cada, será um fetiche? Fico pensando: se eu escrever meus textos com caracteres dobrados, eu terei um texto duas vezes melhor? É uma questão.

“Imã de Geladeira” é uma ficção científica sobre uma geladeira sergipana muito faminta por corpos humanos, mas que é superada pelo amor de um casal. “O Elemento Tinta” tem uma temática política mais interessante ao nos mostrar a vida do entregador de aplicativo duplo de pichador artístico/político que morre de COVID-19. Mas, além de problemas de captação de som, este e outro curta padecem da doença da estação: muita premissa, premissa boa, mas realização mínima, medíocre até.

Vamos aos longas. “Noites Alienígenas” de Sérgio de Carvalho, baseado no seu próprio livro – ele é o roteirista também -, mostra o Acre atual povoado pelo tráfico de drogas do crime organizado vindo do Sudeste e estabelecendo um clima de terror na juventude local. Bem amarrado, com a participação de Chico Diaz como um traficante hippie e pai real simbólico da jovem guarda da cidadezinha onde vive, descobrimos uma realidade distante, mas conhecida, agressiva, mas com elementos de doçura, compondo um mosaico realista, mas artisticamente bem concebido e realizado. O Acre não só existe, mas vive!

Já o filme mexicano “O caminho de Sol”, de Claudia Sainte-Luce, tem como protagonista a secretário de consultório Sol que, mãe separada, ao visitar o ex-marido para ficar um pouco com o filho dos dois, tem o filho sequestrado. O casal se reúne numa épica busca pela cidade do México inteira, incluindo sequestradores falsos, venda de mobília, sequestro de cães, igrejas picaretas e asilos psiquiátricos. Tudo acontece com o Sol até um final em aberto, muito frustrante e mal preparado. Não é o melhor cinema mexicano que já vi.

Personagem do dia: João Jolci Marques Borges, taxista, homem de fé, que está aposto até em madrugadas chuvosas, está chovendo em Gramado, que garante o serviço em qualquer circunstância. Obrigado!

Até amanhã
Com o Cinema, Paulo Casa Nova.

Conversa de Casa
Diário de Gramado – Dia 15/08/2022 – Quarto Dia

Uma noite chuvosa, fria e fraca em termos cinematográficos foi a marca desta segunda-feira no Festival. Pouca coisa se salvou. Os curtas, “Tekoha”, de Carlos Adriano, e “Serrão”, de Marcelo Lin, têm como tema algo indiscutível: a causa identitária. No entanto, suas realizações são medíocres, deixando a cargo do espectador o trabalho de entender seus filmes, deixando a pretensão artística a cargo dos diretores. Duas decepções.

“O Pastor e o Guerrilheiro”, de José Eduardo Belmonte, recria a Guerrilha do Araguaia e nos leva até o Réveillon de 2000 em Brasília, traçando paralelos entre 1973 e 2000, bem como 2022, para mostrar o quão pouco o Brasil não mudou nada. O protagonismo dos atores centrais, Johnny Massaro e César Mello, domina o filme, não dando muita chance para a verdadeira protagonista do filme, Júlia Dalávia, que liga as épocas procurando a verdade do período. O filme nos deixa um pouco mais sábios, apesar de um pouco mais tristes também.

Já o último filme da noite, o português “O Último Animal”, de Leonel Vieira, pretende ser um policial com suspense para prender a atenção da plateia, mas não é bem sucedido neste intento. Roteiro previsível, visão estereotipada, atores ruins e muita pretensão diminuem o impacto de um filme que poderia nos entreter se fosse mais focado no tema central do que nos temas secundários, dispersando a força dramática em vários dramas menores dos protagonistas coadjuvantes. Fiquei com a impressão de muito barulho por muita pouca coisa.

Personagem do dia: Fernanda Etzberger, sócia da Ikebana Filmes, produtora centrada e trabalhadora, tem sempre um projeto na mão e outro na cabeça.

Com o Cinema, Paulo Casa Nova.

Conversa de Casa
Diário de Gramado – Dia 16/08/2022 – Quinto Dia

A noite da terça-feira viu uma melhora da programação. Começou mal com “O Pato”, de Antônio Galdino, cuja apresentação foi melhor que o filme em si. O abuso que a mãe da história sofre de seu marido resulta de um bom trabalho da atriz principal, mas não salva o filme de uma debacle geral: frouxamente dirigido, sem diálogos, mas com subtendidos, o filme se ancora em suas limitadas qualidades para nos entreter com o contra-ataque da mulher abusada ao marido abusivo, que seria o tal pato da história. Conclusão: causa nobre, direção pobre.

Mas melhora. “A Porta ao Lado”, de Júlia Rezende, aponta o desejo sexual entre vizinhos de condomínio. Sexualidade exacerbada, desejo, etarismo, dilemas éticos e morais, tudo misturado num roteiro previsível, sem atender às exigências da história. Ainda assim, o carisma de Bárbara Paz segura a qualidade do filme num alto nível.

A seguir, mais melhora. “Solitude”, de Tami Martins e Aron Miranda é o primeiro curta do Amapá no Festival de Gramado com uma animação sobre a menina solitária que descobre sua própria identidade e sombra tornando-se uma pessoa pública. Dirigido com mão leve, mas segura, o filme vai entrando de leve nos nossos corações.

E o último filme… “Cuando Oscurece”, produção uruguaia com apoio argentino, direção de Nestor Mazzini, é o segundo filme de uma trilogia sobre uma família desmantelada. O filme é protagonizado por César Troncoso, como o pai de família que surta e sequestra a filha. A história inicia do nada porque, embora seja um filme bem organizado, o filme se ressente da ausência do primeiro filme e do último filme. Então, o segundo filme fica espremido entre a ausência da apresentação dos problemas da família e a conclusão do drama. Apesar das qualidades do filme, não se consegue entrar na história emocionalmente. Ainda assim, César Troncoso eleva a qualidade do filme como o pai angustiado com o fim de sua família. Mas o final não é o final mesmo, o que complica o entendimento do filme.

Personagem do dia: Dani Mazzilli, coordenadora de Cinema de Cinema e Vídeo da Secretaria Municipal de Cultura e trabalhadora incansável do Festival do Gramado é uma pessoa e profissional encantadora. Ela nos salva de todos os perrengues possíveis de acontecer no Festival, mantendo a elegância sobre uma pressão enorme.

Como o Cinema, Paulo Casa Nova.

Conversa de Casa
Diário de Gramado – Dia 17/08/2022 – Sexto dia

Grande dia para o Clube de Cinema de Porto Alegre! Lançamos o selo comemorativo dos 75 anos de atividades ininterruptos. A cerimônia ocorreu na manhã da quarta-feira no Museu do Cinema do Festival de Gramado. Foi uma cerimônia rápida, porém elegante para iniciar um ano inteiro de comemorações que transcorrerão entre Porto Alegre e Gramado até o fim de 2023.

À noite, a competição pegou fogo com “Fantasma Neon”, de Leonardo Martinelli, um musical sobre entregadores que encantou a plateia pelo ineditismo da abordagem desta causa social.

“Marte Um”, de Gabriel Martins, nos mostra a carismática família Martins, de uma humanidade, solidariedade, amor e gratidão são uma esperança num país tão conturbado como o nosso. Acredito que este seja o favorito ao Kikito de melhor filme. Vem série aí.

“Mas Eu Não Sou Alguém”, direção de Daniel Eduardo e Gabriel Duarte, é um filme sobre progresso social e destino. Para se tornar alguém é preciso sair da favela? Dá para ser alguém ficando na favela? O filme tem um tema nobre, mas o filme tem as limitações desta safra: duplo comando do filme, direção frouxa levando a uma realização menos impactante do que poderia ser. Causa nobre, realização pobre.

Fora de concurso, “A Viagem de Pedro”, de Laís Bodansky, aproveita a lacuna histórica da viagem de Pedro 1º em 1831 do Brasil de volta a Portugal para enfrentar o Rei e irmão menor Miguel 1º. Como não há registro encontrado sobre a viagem, Laís criou uma história incrível sobre nada. Direção segura, ótima arte mais a atuação soberba de Cauã Raymond como Pedro, torna o filme um dever cidadão do espectador brasileiro durante o bicentenário, uma vez que a estreia se dará em 1° de setembro. Viva, Pedro!

Personagem do dia: Matheus Pannebecker, crítico de cinema, jornalista, Técnico de Cinema do Festival de Gramado. A contraparte masculina de Dani Mazzilli, Matheus mantém uma elegância sobre pressão e faz tudo acontecer. É o nosso canivete suíço!

Com o cinema, Paulo Casa Nova.

Conversa de Casa
Diário de Gramado – Dia 18/08/2022 – Sétimo dia

A noite foi fraca, com um início tímido com o curta gaúcho chamado “Um Tempo Para Mim”, de Paola Mallmann. Causa nobre, realização pobre. A história da jovem indígena muda quando ocorre a primeira menstruação. Sua vida muda de um jeito muito apressado e intenso, com muito som e fúria. Depois de todo o berreiro dos personagens, a impressão que fica é que nada de realmente importante aconteceu.

“Tinnitus”, a doença conhecida como o popular zumbido, dirigida por Gregóri Graziosi, é o que sofre a protagonista, saltadora ornamental, atleta olímpica que ao tentar a medalha de ouro, sofre um acidente em função da doença que lhe força o afastamento das piscinas. Ao tentar uma volta, ela enfrenta vários obstáculos no caminho de sua redenção. O elenco afinado (com a coadjuvância de luxo de Antônio Pitanga), o filme é agradável, mas incompleto, bonito de ver, mas esquecível.

“Socorro”, curta do Pará dirigido por Susanna Lira, conta a vida de Socorro, ativista ambiental, que literalmente pede Socorro pela própria vida própria e pela vida da floresta. Mas um curta com os sintomas de sempre: causa nobre, direção pobre.

Por último, “Inmersion”, filme do Chile, de Nicolás Postiglione, cria um suspense com poucos atores, alguma arte, muita trilha sonora e uma fotografia, além de um roteiro quase que perfeito, onde as meadas soltas – que foram deliberadamente construídas – criam uma atmosfera sufocante, só resolvida pela catarse final.

Personagens do Dia: Ismaelino Silva, Adriana Androvandi e Luiz Carlos Merten, ótimos críticos, bons amigos e comensais, ótimos comensais, ótimo papo de cinema. Pessoas que honram ao aceitarem-me como amigo e colega.

Com o Cinema, Paulo Casa Nova.

Conversa de Casa
Diário de Gramado – Dia 19/08/2022 – Oitavo dia

O dia foi curto e a noite, curtíssima. Somente o documentário vencedor do certame nacional, onde os filmes não foram exibidos no cinema, mas no canal patrocinador da TV fechada, o Canal Brasil. Ainda assim, anunciado ontem e exibido hoje é “Um Par Para Chamar De Meu”, direção de Kelly Cristina Spinelli. O filme versa sofre etarismo: as dificuldades que as senhoras viúvas e divorciadas, as mulheres idosas e solitárias, como se divertem, aliás, elas podem se divertir?

A mãe da diretora Kelly abriu-lhe a porta para uma realidade espetacular: os clubes de dança, onde as senhoras podem reviver sua juventude e um – hoje contestado, cavalheirismo. A solução desse dilema não é mais esperar por um cavalheirismo, mas comprá-lo como uma mercadoria especial. O filme aborda com leveza uma situação marginal à nossa consciência de nossa sociedade. A plateia adorou!

Personagem do dia: Ane Siderman, cineasta. Ane é nativa típica da nossa mítica fronteira: fala espanhol e português desde o berço, é franca e dura quando deve, atua no cinema desde sempre para o melhor cinema gaúcho. Defeito: fuma sem parar!

Com o Cinema, Paulo Casa Nova.

Conversa de Casa
Diário de Gramado – Dia 20/08/2022 – Nono dia

Noite de premiação, encerramento do Festival e das Apostas!

Mais um Festival que recém se iniciou e já está terminando! O nono dia marca a noite da premiação; o período competitivo está encerrado. Com altos e baixos em termos de pontualidade dos eventos e qualidade das seleções, o Festival de Cinema de gramado tem um saldo positivo, ainda que a nota não seja alta: passou para o próximo ano, por média, é o que importa. O reencontro com amigos queridos valeu demais!

Personagens do dia: Rosa Helena Volk, presidenta da GramadoTur, e Marcos Santuário, selecionador principal, carregam o Festival nas costas junto com Vera Carneiro; sem eles, não há Festival. Eles são aqueles profissionais que, com o tempo e as dificuldades, e o Festival teve muito disso na sua história, aprenderam a tirar a meia sem tirar o sapato.

Apostas:

Longas Brasileiros: “A Mãe”, por Marcílio Cartaxo, tem chances para melhor atriz; o elenco de “Marte Um”, seu diretor e roteirista devem ganhar roteiro, filme, direção e atores. Favorito! “Noites Alienígenas” é forte concorrente em roteiro, ator e diretor.

Longas Estrangeiros: Os prêmios principais serão divididos entre o peruano “La Pampa ” e o chileno “Inmersión”. Eles dominaram a arte que leva os Kikitos de melhor filme, direção, ator principal, roteiro, montagem, som e fotografia.

Curtas Brasileiros: Minhas preferências vão para a animação do Amapá “Solitude” e a surpresa agradável que é “Fantasma Neon”. Amanhã tem rescaldo do Festival.

Com o Cinema, Paulo Casa Nova

Conversa de Casa
Diário de Gramado – Dia 21/08/2022 – Décimo dia – O Rescaldo

Saldo positivo da edição de número cinquenta do Festival de Cinema de Gramado: a média dos filmes selecionados foi boa, especialmente a consagração de “Marte Um” e “Noites Alienígenas”; embora nas outras categorias de filmes não houvesse, a meu ver, nada de espetacular, ao menos tivemos o melhor de um festival em modo presencial: a confraternização.

Boas conversas, novos projetos, palestras, eventos dentro de eventos caracterizaram o melhor deste primeiro Festival Pós-pandêmico – o encontro com as pessoas que compartilham os valores em torno da cultura e do progresso social.

Desço a serra novamente, desde 1999 com algumas falhas, com o coração leve e a mente otimista, já pensando no próximo ano.

Até o Próximo ano!
Com o Cinema, Paulo Casa Nova

Foto no post: Agência PressPhoto