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Publicado por em mar 24, 2014 em Artigos |

Crônica de um verão francês (Crônica de Um Verão, 1961)

por André Garcia (curso de Realização Audiovisual da Unisinos)

4Marco histórico de uma inovação denominada “cinema verdade” pelos próprios diretores do filme, Crônica de um Verão, de Jean Rouch e Edgar Morin, assume a responsabilidade de marcar o início de uma década conturbada na França, e de explicitar a desilusão do povo francês no período.

O documentário parte de uma conversa informal dos diretores com uma garota francesa, na qual questiona-se a relação que essa jovem tem com a câmera, e se a mesma afetará ou não o seu comportamento durante a entrevista. Desde então, ela, que está na abertura do filme, é utilizada como entrevistadora, questionando a felicidade dos transeuntes que perambulam pelas ruas de Paris.

Crônica de um Verão pode ser lido como um precursor da revolta que aconteceria sete anos depois no país, e os personagens (reais, diga-se de passagem) entrevistados também por Rouch e Morin funcionam como uma generalização do sentimento do francês na época.

No filme, ocorre uma tentativa de miscigenação proporcionada aos personagens pelos diretores. Um negro proveniente da Costa do Marfim, na África, passa a interagir com os franceses entrevistados, e diferentes perspectivas de mundo em relação à felicidade, sentimento de inferioridade, vão aparecendo a partir de então.

A sensação de superioridade e de felicidade por parte da sociedade operária francesa também é questionada pelo filme, em uma seqüência em que fica clara a miscigenação das etnias elaborada por Rouch e Morin. Em uma conversa informal perante a câmera, o personagem Ângelo – operário de classe média – assume ao personagem africano que “os operários que gostam de se aparecer com riquezas não são felizes, são uns pobre coitados”, explicitando ao espectador que a classe média pequeno-burguesa operária da França, no período, preocupava-se mais com as aparentes riquezas materiais, deixando no ar um clima de consternação que afetava diretamente o sentimento de felicidade destes cidadãos.

A “mosca” – referente à câmera que, segundo a máxima do cinema verdade, deveria estar sempre no centro da cena – está quase sempre perambulando por Paris, sempre na mão e na busca dos entrevistados, ou seja, realmente “no meio da sopa”, passando uma incrível sensação de mobilidade e de realidade.

Este filme – ao mostrar uma sociedade francesa indignada com a situação atual, infeliz, e mesmo assim acomodada – foi um dos responsáveis pela eclosão dos princípios desta sociedade no ano de 1968, na busca por um mundo melhor não só em território francês, mas num âmbito internacional.

Crônica de um Verão (Chronique d’um Été)
Direção: Jean Rouch e Edgar Morin
Documentário
País: França
Ano de lançamento: 1961
Disponível em DVD no Brasil
Duração: 85 minutos