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Publicado por em fev 10, 2016 em Artigos, Críticas |

Vento (2015), por Robledo Milani

 

O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria”. Com esses singelos dizeres de Mário Quintana, o inesquecível “poetinha”, a diretora Betânia Furtado inicia o belo Vento, curta de animação finalizado na metade de 2015 e que teve uma das suas primeiras exibições públicas no dia 30 de janeiro de 2016, durante 19° Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais. Em pré-estreia nacional, o filme de apenas 13 minutos foi apresentado dentro da Mostrinha, uma programação especial de filmes voltados ao público infantil. Mas o que se vê na tela é indicado a qualquer tipo de espectador, sem delimitação de idade.

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Em cena, acompanhamos o cotidiano de Gabriel, uma criança solitária. Ele vive com os pais em uma comunidade beira-mar que vive da pesca e das variações do tempo. A única certeza ali parece ser o som do vento, que sopra sem parar e é, em última instância, sua companhia mais constante. Tudo muda, no entanto, no dia em que ele encontra uma garrafa trazida pela maré. Dentro, uma carta. Seria um pedido de ajuda? Uma declaração de amor? Um segredo há muito esquecido? Não sabemos. Nem o próprio protagonista sabe de imediato. E por quê? Porque ele não sabe… ler!

Sua busca por esse conhecimento não será fácil, e no caminho ele irá se deparar com reações contrárias à sua excitação e curiosidade. Os adultos recusam-se a lhe ajudar, o pai parece se revoltar com aquela urgência que lhe parece tão desproporcional. Decidir a quem recorrer parece, aos poucos, se tornar tão difícil quanto a descoberta daqueles símbolos enigmáticos. Até um mestre surgir com uma antiga, porém necessária, lição: mais inteligente do que dar o peixe é ensinar como pescá-lo.

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Com um traço precioso de Guazzelli e uma delicada trilha sonora de Caio Amon, Betânia constrói uma ode à imaginação e à conquista do mundo, que pode ser maior ou menos dependendo apenas da amplitude das informações que dispomos. Assim como Gabriel, que parte rumo a uma jornada de descobertas e iluminações, nós somos também guiados pela cineasta, que mostra como pode ser emocionante tal percurso. Com esse resultado, ela dá mais um sinal do crescente potencial artístico do Rio Grande do Sul para a realização de animações – algo que Otto Guerra há muito vem apontando, felizmente não mais sozinho, mas cada vez mais um entre tantos.