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Publicado por em mar 24, 2014 em Artigos |

O indiscreto charme de Claude Chabrol (1930-2010)

por Adriano de Oliveira Pinto

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O jornal francês Le Monde noticiou hoje (12/09/2010) o falecimento de um dos grandes cineastas europeus em atividade até então: Claude Chabrol, um mestre do cinema de mistério (“o Hitchcock francês”) e um grande satirizador da burguesia francesa.

Chabrol era formado em Letras, trabalhou no setor de imprensa da Twentieth Century Fox francesa e depois se tornou articulista na célebre publicação “Cahiers du Cinéma”em sua fase lendária. Foi ali que se gerou o embrião da nouvelle vague, da qual foi um de seus artífices, ao lado de colegas como Truffaut, Godard e Rivette. O movimento artístico veio a revolucionar o cinema na segunda metade do século passado.

Autor de mais de oitenta obras, entre cinema e TV, se mostrou prolífico o tempo todo, sendo o seu último filme lançado no Brasil em 2008: “Uma Garota Dividida em Dois”, com as belas Ludivine Sagnier e Mathilda May e a presença de Benoît Magimel no elenco. Magimel também esteve em um filme que Chabrol lançou nos anos 2000, o excelente “A Dama de Honra” (2004), onde Laura Smet brilha.

Um dos grandes problemas de Chabrol não conseguir ser plenamente apreciado pelos cinéfilos brasileiros é justamente a pequena, comparativamente falando, quantidade de seus títulos disponível no mercado nacional – menos de ¼ da obra dele pode ser achada junto às locadoras.

O diretor sempre apresentou grande talento para desenvolver tramas de mistério, gênero do qual foi considerado um autor de excelência. Oscilando entre obras com fundo de crítica social, como “Quem Matou Leda”(1959) a um cinema fantástico mais arraigado, tal “Alice”(1977) – este com uma Sylvia Kristel no auge de sua beleza, recém-vinda do polêmico “Emmanuelle” – o francês muitas vezes fez do mistério o pilar em torno do qual se esculpiam personagens densos e um olhar aguçado no viés sociológico. Mirando na burguesia, Claude a provocou das mais variadas formas, enroscando uma visão ácida sobre a mesma junto a seus filmes de suspense, como em “Os Inocentes de Mãos Sujas” (1975) e “A Teia de Chocolate” (2000).

A paranoia e as obsessões são temas recorrentes dos filmes dele, basta lembrar de “Profecia de um Delito”(1976) e “Ciúme – O Inferno do Amor Possessivo”(1994), este estrelado por Emmanuelle Béart num estado de inebriante beleza física, dividindo a tela com François Cluzet.

Mas a grande musa de Chabrol foi de fato Isabelle Huppert, com quem rodou vários filmes; são obras consistentes que vão de “Violette Nozière”(1978) à sua particular versão de “Madame Bovary”, feita há quase vinte anos. A parceria não parou por aí, acumulando-se outras mais, sendo a mais recente entre ambos, “A Comédia do Poder”, de 2006.

O prisma particular de Chabrol fará muita falta no cinema. Seu humor negro, sua invejável técnica de filmagem, suas tantas facetas de uma rica personalidade artística são agora lendas que precisam ser narradas para as gerações atuais e futuras.