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Publicado por em mar 25, 2014 em Artigos |

Mais uma história sobre a ditadura (Em teu Nome, 2010)

por Misael Lima

01O anúncio de que o diretor gaúcho, Paulo Nascimento, produziu dois filmes em apenas um ano causou certo alvoroço na cena cinematográfica do sul do Brasil. Depois de dois filmes premiados em Gramado mas desconsiderados nacionalmente (Diário de um novo mundo e Valsa para Bruno Stein), Paulo apostou em uma produção voltada para o público infantil em A Casa Verde e no drama Em Teu Nome…, filme sobre a ditadura militar brasileira mostrando a história do revolucionário Boni, desde o momento onde adere a luta até sua deportação e consequente anistia. Nesse meio tempo, mostra a luta do personagem e seus aliados em outros países na tentativa de mostrar a realidade brasileira ao mundo.

Aguardado com muita expectativa no 37º Festival de Cinema de Gramado, Em Teu Nome… teve um dos maiores públicos da mostra nacional, já que sua exibição foi realizada justamente na entrega do prêmio Assembléia Legislativa. Aplaudido de pé por boa parte do público presente o filme foi destaque na premiação, onde recebeu 4 Kikitos: Melhor Ator (Leandro Machado), Melhor Trilha Musical, Melhor Diretor (dividido por Vincent Carelli) e Prêmio Especial do Juri. Muitos não entenderam como o filme não levou o prêmio máximo do Festival, sendo superado por Corumbiara. Em maio deste ano, juntamente com A Casa Verde, Em Teu Nome… estreou nos cinemas nacionais, um momento raro quando um diretor brasileiro apresenta duas produções suas ao mesmo tempo.

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Diferente da recepção no Festival, a imprensa especializada deu uma resposta fria ao longa de Paulo Nascimento. A verdade é que Em Teu Nome… tem ares de superprodução, com um enfoque completamente desgastado. Novamente encaramos por quase duas horas um filme sobre a ditadura militar brasileira que em seus 5 primeiros minutos oferece sim uma visão diferenciada, para logo depois, criar estereótipos de personagens que já conhecemos. Desde a mulher durona, o alívio cômico, o racional e o destemperado, nada do que já não tenha sido apresentado em outras produções do gênero. A história se desenrola de forma rápida demais, com diálogos prontos e frases de efeito que deveriam soa retumbantes, mas em um espectador mais analítico, tornam-se não mais do que palavras ao vento. Um dos grandes problemas de Em teu nome… é tentar emocionar a todos os momentos. Basta iniciar-se um pequeno drama para que a trilha encha os ouvidos novamente. Antes da metade do filme essa técnica começa a irritar. Mais do que tudo, o silêncio é uma poderosa trilha que parece muito subestimada pelo diretor. As atuações são superestimadas. Leandro Machado consegue sustentar o papel, mas não tem cacife para carregar o filme nas costas. Já Fernanda Moro é o elo fraco do filme que torna as cenas de drama mais densas, em sketchs de programas de humor. Em determinada cena onde Boni discursa em meio aos Andes sobre a importância da luta e dos momentos que vem a seguir, esperando uma resposta de sua esposa, a atriz consegue dizimar qualquer chance de poder na revelação que está prestes a fazer. Faz um muchocho, afunda a cara entre as mãos e revela que está grávida. Mesmo em Gramado onde a receptividade ao filme foi imensa, o público riu. A atriz não estava à altura do papel.

Rodado em 30 dias, um dos grandes trunfos do filme era que o filme havia sido gravado em 4 países diferentes, mas, apesar do Chile ter bom tempo em tela, Marrocos e Paris praticamente inexistem, servindo apenas como fundo para as cenas. O clímax da história, em uma cena desnecessária inserida nos créditos de abertura de Em teu Nome… é quase banal e peca pela falta de expressividade. O recorrente didatismo das personagens em relembrar a todo momento que “enquanto estamos aqui/estudando/fugindo pessoas morrem lutando pela pátria” é cansativo e desnecessário. Não existem entrelinhas para serem lidas no filme. Muito alarde para um filme que repete a filmografia de Paulo Nascimento, sem mudar o mundo ou mesmo manter acordado o espectador que não se deixa levar pelos artifícios de uma grande produção.