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Publicado por em jul 27, 2009 em Uncategorized |

Holly Vs. Bolly (Quem Quer Ser Um Milionário, 2008)

por Robledo Milani

Desde 2004, quando o fantástico Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei foi escolhido como melhor filme do ano, tendo sido premiado em todas as 11 categorias a que concorria, nenhuma produção repetia tal performance como Quem Quer Ser um Milionário?, que no último dia 22 de fevereiro arrebatou oito das nove estatuetas a que fora indicado. E por que foi preciso que um longa pequeno, independente, relativamente barato e sem nenhum nome minimamente conhecido no elenco arrebatasse a atenção e a preferência de todos dessa maneira? Estaria Hollywood começando a demonstrar interesse na – verdadeira – maior indústria cinematográfica do planeta? E, quem sabe, aprender com eles como reconquistar a audiência do grande público, cada vez mais ligado em formas alternativas – internet, celulares, DVDs – de se assistir aos filmes? Afinal, tudo são negócios, não é mesmo? Ou estaria essa mudança de rumo ligada a conceitos muito mais profundos do que os meramente econômicos?

Quem Quer Ser um Milionário teve um orçamento de US$ 15 milhões (Lula, o Filho do Brasil, que Fábio Barreto está atualmente filmando, vai custar aproximadamente a mesma coisa) e arrecadou, somente nos Estados Unidos, quase dez vezes esse valor. Um bom investimento, não? Ainda melhor quando se descobre que por pouco ele não aconteceu! Afinal, quando Danny Boyle, o diretor, chegou na distribuidora com o trabalho pronto, sabe o que ouviu como resposta? “Ninguém vai querer ver este filme, achamos melhor lançá-lo diretamente em vídeo”. Boyle, que de bobo não tem nada, bateu pé e disse que só assinaria contrato com a garantia de um lançamento nos cinemas. E o resto é história.

Mas se engana quem pensa que é obra do “destino” (como o próprio protagonista do filme diz acreditar) o sucesso de Quem Quer Ser um Milionário?. Mais do que uma quebra de paradigma, o longa aposta numa retomada de antigos valores. Basta olhar os vencedores do Oscar dos últimos anos! Chega de assassinos sanguinários (Onde os Fracos não têm Vez, 2008), mafiosos americanos (Os Infiltrados, 2007), dramas de violência social (Crash, 2006), ou garotas que apostam tudo num ringue de luta (Menina de Ouro, 2005). Estava mais do que na hora de um conto de fadas no estilo “…e viveram felizes para sempre”. Nesse sentido Danny Boyle contou mais do que com o próprio talento – uma boa dose de sorte e coincidências sócio-econômicas, agravadas pela crise mundial atual, certamente colaboraram.

Outro fato importante e que merece ser destacado: Quem Quer Ser um Milionário? não consiste numa ruptura tão grande no modo hollywoodiano de fazer cinema – e menos ainda numa aproximação com Bollywood, a representação máxima do cinema indiano. Afinal, pra começo de conversa, isso ele também não é! Trata-se, na verdade, de uma produção inglesa, realizada por um diretor inglês e com dinheiro inglês. Isso sem mencionar o fato de que quase a totalidade dos diálogos são em inglês, e não em hindu – o que seria o mais natural. Caso esta “fidelidade” tivesse sido praticada, posso apostar que o máximo que conseguiria seria um único Oscar – e de Filme Estrangeiro!

Nada melhor, no entanto, do que o exotismo, o colorido e os sons hipnotizantes de uma terra distante e pouco desvendada por olhos ocidentais para representar o “novo”, a salvação de um modelo já velho e desgastado. Mas é uma inovação controlada, domesticada, e que reage conforme o script. Com final feliz e tudo. E se o próprio Oscar deu seu aval, com todo o entusiasmo possível, por que nós, cinéfilos tupiniquins, seríamos naturalmente do contra? Só para implicar? Que nada – vá e aproveite. E tire suas próprias conclusões após a resposta final!