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Publicado por em mar 25, 2014 em Artigos |

Divã, por Robledo Milani (Divã, 2009)

por Robledo Milani

11Sucesso literário. Fenômeno teatral. Qual o próximo passo? Conquistar os cinemas! E assim completa esta trajetória “Divã”, longa baseado no romance escrito por Martha Medeiros e que conta com a ótima Lília Cabral como protagonista, após milhares de livros vendidos, mais de 150 apresentações nos palcos de todo o país e cerca de 175 mil espectadores. Lília e Martha, portanto, estão bastante tranqüilas neste momento em que chegam à tela grande. E com todo o direito – a impressão que temos é que este texto envolvente e tão inspirada atuação foram destinados ao glamour e ao conforto cinematográfico.

Ao contrário de tantas outras comédias românticas hollywoodianas que semanalmente entram em cartaz sem acrescentar nada ao gênero, “Divã” ao menos possui alguns diferenciais: é um filme tem a habilidade de estabelecer uma comunicação efetiva com o público. Tanto mulheres quanto homens conseguem se identificar com os acontecimentos que compõem a trama. Quem nunca enfrentou uma desilusão amorosa, não se aventurou em romances com data para acabar ou viu indecisa entre opções que previamente sabiam ser erradas, porém muito mais divertidas? Perda, paixão, amor verdadeiro, amizade, descobertas, inadequação, falsas expectativas e boas surpresas são alguns dos diversos sentimentos que frequentam a história do início ao fim, alternando-se entre si ou mesmo paralelamente uns com os outros, mostrando bem a deliciosa confusão que habita dentro de nós. Alguns podem acusar a gaúcha Martha Medeiros de ser em certos assuntos muito simplista e sem maiores profundidades, mas as situações e os diálogos por ela imaginados refletem bem a condição humana em busca de valores básicos e primordiais, como amor, felicidade e realização.

“Divã” começa com esta mulher chegando a sua primeira sessão de análise e começando a se deparar com sua história, erros e acertos que a fizeram do jeito que é. A partir deste momento a acompanhamos no casamento feliz, com marido e dois filhos, que como tudo na vida um dia chega ao fim. Depois surgem outros romances, flertes e envolvimentos, até o momento crucial em sua relação mais honesta e verdadeira, aquela vivida com a melhor amiga. Neste meio tempo ela irá se auto-descobrir, buscar forças que até então não imaginava possuir e se satisfazer com sonhos e desejos muito mais simples que aqueles que possuía na juventude, porém igualmente prazerosos e dignos de atenção.

Com direção segura, leve e muito bem planejada de José Alvarenga Jr., o mesmo de “Os Normais”, e o roteiro uniforme e engenhoso de Marcelo Saback, também responsável pela versão vista nos teatros, “Divã” ganha muitos pontos também pelo competente elenco que apresenta.

Lilia Cabral é uma das melhores atrizes brasileiras, geralmente relegada a papéis coadjuvantes na televisão e com poucas participações no cinema (seu último filme havia sido “A Partilha”, em 2001), e que felizmente encontra aqui uma oportunidade de dar vazão ao seu imenso talento. Ela possui todas as nuances, os medos e as alegrias de um personagem que está longe de ser um estereótipo, pois está muito bem construído e representado. A amiga, vivida por Alexandra Richter (que também estava nos palcos), mostra bem a familiaridade das duas nestes papéis. Por outro lado, o time masculino não fica também nada a dever. José Mayer, um veterano, está muito à vontade e seguro, enquanto que Reynaldo Gianecchini confirma que a presença frequente que tem tido nos cinemas (nos últimos meses esteve em “Entre Lençóis”, “Sexo com Amor?” e “Primo Basílio”) tem lhe garantido uma naturalidade diferenciada. Por fim, Cauã Reymond, que também vem descobrindo a sétima arte (no ano passado esteve em “Falsa Loura” e em breve poderá ser visto também em “Se Nada Mais Der Certo”), mostra uma tranqüilidade que deixa claro que sua condição está longe de ser a de um principiante.

“Divã” pode ser um grande sucesso de público – o que seria imensamente merecido – ou acabar despercebido. Em qualquer um dos casos, o mais importante é a certeza desta equipe de ter feito o melhor com o que tinham em mãos, entregando à audiência de cinéfilos e curiosos um longa completo, dinâmico e divertido, com muito humor e também momentos sérios e comoventes. Um belo e competente exemplo de cinema nacional feito com dedicação e cuidado, e que merece todo aplauso e reconhecimento – não só da crítica, mas também das bilheterias. Um filme feito com alma, que se comporta muito bem enquanto entretenimento, mas que apresenta elementos suficientes para despertar o interesse daqueles mais dedicados. De sair da sala com sorriso no rosto e feliz com uma mensagem não moralista, mas cheia de significados. (Robledo Milani)

(publicado originalmente em www.cineronda.com.br)
Texto de crítico integrante da ACCIRS já publicado em outro veículo da imprensa e autorizado para publicação no site da associação.