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Publicado por em mar 23, 2014 em Artigos |

Arraste-me para o Inferno (2009)

arraste-mePor Carlos Thomaz Albornoz

O retorno de Sam Raimi ao cinema de horror, depois de mais de 20 anos fazendo filmes ‘sérios’ e comerciais, é uma ótima notícia aos fãs do gênero. Quer dizer que o mestre voltou ao seu posto, e está mostrando aos discípulos como se faz.

Por mais que nunca tenha se afastado totalmente do cinema fantástico, Raimi não fazia um filme de horror ‘puro’, sem crossovers (misturas com outros gêneros), desde ‘Uma Noite Alucinante’, de 1987. A dúvida entre seus fãs era simples: será que ele ainda tem o toque que o diferenciava entre os outros diretores do gênero?

Resposta, curta e grossa: Tem. ‘Arraste-me para o Inferno’ é o melhor filme americano do gênero em muito tempo, pelo menos desde ‘A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça’.

Partindo de uma premissa simples e até certo ponto batida (uma analista de empréstimos de um bando é amaldiçoada por uma cigana e deve descobrir o que fazer para não morrer em três dias), semelhante à da novela (e filme de Tom Holland – fraco) ‘A Maldição do Cigano, de Stephen King, Raimi, também roteirista(junto com seu irmão Ivan), cria uma verdadeira montanha-russa de cenas de ação e humor negro, acelerando tudo a ponto de tontear o espectador. E recheia isso com várias cenas e momentos memoráveis, e um final sarcástico e inesperado, que cita o clássico ‘A Noite do Demônio’, de Jacques Torneur.

Não é o retorno de Raimi ao baixo orçamento, como foi dito em alguns sites. Os 30 milhões de dólares disponíveis podem ser apenas um sexto do que ele dispôs no último filme do homem-aranha, mas é quase dez vezes mais do que ele teve à sua disposição em ‘Uma Noite Alucinante’, e quase 100 vezes mais do que ‘A Morte do Demônio’. Alguns diretores não parecem saber trabalhar fora de condições adversas. Filmam bem com pouca grana e se atrapalham quando têm tudo à sua disposição, Não é o caso de Raimi. Existe muito poucas diferenças entre o clima de ‘Arraste-me…’ e os outros filmes de horror dele. Há atores conhecidos (como a indicada ao Oscar Adriana Barrazas, o narigudo Justin Long e a linda ruiva [aqui loira] Allison Lohman, em sua estréia no gênero), tudo é um pouco mais polido e bem-acabado, mas a ‘pegada’ e a imaginação de Raimi são as mesmas.

Talvez o maior elogio que pode ser feito é que não parece que estamos assistindo ao filme de um diretor cinquentão (a serem feitos em outubro), estabelecido na indústria, com vários blockbusters nas costas. Parece, isso sim, o filme de um diretor iniciante, faminto, querendo mostrar trabalho, querendo provar que é o cara, se divertido, fazendo várias citações aos seus filmes anteriores, aos desenhos animados da Warner (quem tem uma bigorna pendurada por um fio em casa?), aos Três Patetas, a seus diretores favoritos, como William Castle (vide o ‘novo’ logotipo de sua produtora), e ao insuperável ‘A Casa da Noite Eterna’ (citado na cena da possessão).